O aumento do consumo de leite oriundo de vacas que produzem exclusivamente os alelos A2 da β-caseína é visível e tem ganhado cada vez mais força em todo mundo. Inúmeros países já regulamentaram o produto, popularmente chamado de “Leite A2A2”, e diversas indústrias já oferecem ao consumidor essa opção nas prateleiras dos supermercados. Hoje, cerca de 20% a 25% da população mundial apresenta algum problema digestivo após o consumo de leite e seus derivados. Mas, estima-se que apenas 5% da população tem intolerância à lactose.
No entanto, pesquisas apontam que um percentual muito menor de consumidores de produtos à base de leite produzidos por vacas da raça Jersey apresenta esse tipo de problema. Mas, qual é o papel da raça Jersey na produção desse leite? A explicação pode estar no fato de que nessa raça, há um número muito maior de animais que produzem o leite com β-caseína A2A2 (cerca de 75% de toda a população de vacas Jersey).
Quando se analisa os componentes do leite, 80% da proteína é composta pela Caseína, dividida em α-caseína, β-caseína e Kappa-caseína. A β-caseína representa 30% das caseínas do leite, sendo os tipos mais comuns encontrados nos bovinos a β-caseína A1 e β-caseína A2. Cada uma dessas proteínas é composta por 209 aminoácidos e a diferença entre as proteínas A1 e A2 está no 67º aminoácido da cadeia. Enquanto nesse local a proteína A1 apresenta o aminoácido Histidina, a proteína A2 apresenta o aminoácido Prolina. A vaca se diferencia de outros mamíferos pela presença da Histidina na cadeia de aminoácidos da proteína A1 no leite. Já o leite humano, de caprinos e outros mamíferos contém o aminoácido Prolina na sua cadeia, assim como as vacas que produzem leite A2A2.
A proteína β-caseína A1, após ser digerida no intestino delgado, produz um peptídeo denominado β-casomorfina-7 (BCM-7), um opioide que permanece fisiologicamente ativo após hidrólise (peptídeo bioativo) e que está associado ao desconforto intestinal, entre outros sintomas, muito em função de diminuir a passagem do alimento pelo intestino (assim como outros opioides), dando mais tempo para a fermentação da lactose. Já a β-caseína A2, por ter o aminoácido Prolina na 67ª posição da cadeia, não sofre clivagem e, portanto, não libera BCM-7.
A forma original do leite produzindo pela vaca seria o A2, mas, acredita-se que uma mutação ocorrida na região da Europa fez com que alguns animais passassem a produzir leite com o alelo A1. Porém, os animais da raça Jersey foram menos afetados, contando apenas com os alelos A2 na maioria de sua população.
Existem três genótipos possíveis para a produção da β-caseína no leite, sendo A1A1, que determina que o animal produza apenas a β-caseína A1 (homozigoto A1), A2A2 que são as vacas que produzem somente o tipo A2 da β-caseína (homozigoto A2), e ainda aquelas fêmeas com genótipo A1A2, que produzem os dois tipos (heterozigoto). Essa variação na composição da β-caseína se justifica de acordo com a genética do animal. Visando produzir animais homozigotos A2A2, o caminho é a utilização de touros que sejam homozigotos para esses alelos, na inseminação artificial (IA).
Atualmente, os touros utilizados em IA são, em sua maioria, testados genomicamente para β-caseína, informando se ele é A2A2, A1A2 ou ainda A1A1. O teste genômico das fêmeas, com a inclusão de teste para β-caseína, revelará como são constituídos os rebanho, tendo em vista essa característica e com base nisso é possível saber como será a progênie das vacas e novilhas do plantel.
Para acelerar o processo de formação de animais A2A2, uma estratégia de destaque é o uso touros genotipados para esses alelos, exclusivamente. A combinação de um macho A2A2 com fêmeas A1A1, que na raça Jersey representa apenas 9% da população, já produz 100% da progênie com a presença do alelo A2. Isso significa que em 8 gerações, ou menos, é possível contar com um rebanho de animais com os alelos A2A2. Esse período será mais curto para as fêmeas que já possuem alelo A2 e, obviamente imediato para as que já são A2A2.
O genoma certamente é uma das mais poderosas ferramentas de seleção genética e seu impacto no melhoramento é de uma intensidade nunca vista antes. Nas fêmeas, por exemplo, sua importância é relevante, sobretudo na facilidade de identificar o ponto de partida para os acasalamentos. Conhecer as vacas A2A2, A2A1 ou A1A1 do rebanho possibilitará ao produtor saber quanto tempo levará para transformar os descendentes dos seus animais em A2A2. Isso representa o encurtamento do intervalo entre gerações e a segmentação de animais em grupos superiores e inferiores, por meio da aplicação de estratégias genéticas otimizadas, dando velocidade ao processo de melhoramento.
Com a popularização e o aumento do consumo do leite oriundo de vacas A2A2, principalmente entre a parcela da população que apresenta algum desconforto digestivo ao ingerir lácteos, a raça Jersey se destaca entre as demais, pois a ampla maioria do rebanho possui exclusivamente esse tipo de β-caseína.
Nesse contexto, a seleção genética é o caminho mais simples e permanente na busca por animais A2A2, assim como a avaliação genômica de fêmeas e o uso de touros com esse tipo de β-caseína. Tudo isso representa a oportunidade de transformação genotípica do rebanho.
Artigo por:
Dr. Claudio Aragon
Diretor de Mercados Semex Brasil
O aumento do consumo de leite oriundo de vacas que produzem exclusivamente os alelos A2 da β-caseína é visível e tem ganhado cada vez mais força em todo mundo. Inúmeros países já regulamentaram o produto, popularmente chamado de “Leite A2A2”, e diversas indústrias já oferecem ao consumidor essa opção nas prateleiras dos supermercados. Hoje, cerca de 20% a 25% da população mundial apresenta algum problema digestivo após o consumo de leite e seus derivados. Mas, estima-se que apenas 5% da população tem intolerância à lactose.
No entanto, pesquisas apontam que um percentual muito menor de consumidores de produtos à base de leite produzidos por vacas da raça Jersey apresenta esse tipo de problema. Mas, qual é o papel da raça Jersey na produção desse leite? A explicação pode estar no fato de que nessa raça, há um número muito maior de animais que produzem o leite com β-caseína A2A2 (cerca de 75% de toda a população de vacas Jersey).
Quando se analisa os componentes do leite, 80% da proteína é composta pela Caseína, dividida em α-caseína, β-caseína e Kappa-caseína. A β-caseína representa 30% das caseínas do leite, sendo os tipos mais comuns encontrados nos bovinos a β-caseína A1 e β-caseína A2. Cada uma dessas proteínas é composta por 209 aminoácidos e a diferença entre as proteínas A1 e A2 está no 67º aminoácido da cadeia. Enquanto nesse local a proteína A1 apresenta o aminoácido Histidina, a proteína A2 apresenta o aminoácido Prolina. A vaca se diferencia de outros mamíferos pela presença da Histidina na cadeia de aminoácidos da proteína A1 no leite. Já o leite humano, de caprinos e outros mamíferos contém o aminoácido Prolina na sua cadeia, assim como as vacas que produzem leite A2A2.
A proteína β-caseína A1, após ser digerida no intestino delgado, produz um peptídeo denominado β-casomorfina-7 (BCM-7), um opioide que permanece fisiologicamente ativo após hidrólise (peptídeo bioativo) e que está associado ao desconforto intestinal, entre outros sintomas, muito em função de diminuir a passagem do alimento pelo intestino (assim como outros opioides), dando mais tempo para a fermentação da lactose. Já a β-caseína A2, por ter o aminoácido Prolina na 67ª posição da cadeia, não sofre clivagem e, portanto, não libera BCM-7.
A forma original do leite produzindo pela vaca seria o A2, mas, acredita-se que uma mutação ocorrida na região da Europa fez com que alguns animais passassem a produzir leite com o alelo A1. Porém, os animais da raça Jersey foram menos afetados, contando apenas com os alelos A2 na maioria de sua população.
Existem três genótipos possíveis para a produção da β-caseína no leite, sendo A1A1, que determina que o animal produza apenas a β-caseína A1 (homozigoto A1), A2A2 que são as vacas que produzem somente o tipo A2 da β-caseína (homozigoto A2), e ainda aquelas fêmeas com genótipo A1A2, que produzem os dois tipos (heterozigoto). Essa variação na composição da β-caseína se justifica de acordo com a genética do animal. Visando produzir animais homozigotos A2A2, o caminho é a utilização de touros que sejam homozigotos para esses alelos, na inseminação artificial (IA).
Atualmente, os touros utilizados em IA são, em sua maioria, testados genomicamente para β-caseína, informando se ele é A2A2, A1A2 ou ainda A1A1. O teste genômico das fêmeas, com a inclusão de teste para β-caseína, revelará como são constituídos os rebanho, tendo em vista essa característica e com base nisso é possível saber como será a progênie das vacas e novilhas do plantel.
Para acelerar o processo de formação de animais A2A2, uma estratégia de destaque é o uso touros genotipados para esses alelos, exclusivamente. A combinação de um macho A2A2 com fêmeas A1A1, que na raça Jersey representa apenas 9% da população, já produz 100% da progênie com a presença do alelo A2. Isso significa que em 8 gerações, ou menos, é possível contar com um rebanho de animais com os alelos A2A2. Esse período será mais curto para as fêmeas que já possuem alelo A2 e, obviamente imediato para as que já são A2A2.
O genoma certamente é uma das mais poderosas ferramentas de seleção genética e seu impacto no melhoramento é de uma intensidade nunca vista antes. Nas fêmeas, por exemplo, sua importância é relevante, sobretudo na facilidade de identificar o ponto de partida para os acasalamentos. Conhecer as vacas A2A2, A2A1 ou A1A1 do rebanho possibilitará ao produtor saber quanto tempo levará para transformar os descendentes dos seus animais em A2A2. Isso representa o encurtamento do intervalo entre gerações e a segmentação de animais em grupos superiores e inferiores, por meio da aplicação de estratégias genéticas otimizadas, dando velocidade ao processo de melhoramento.
Com a popularização e o aumento do consumo do leite oriundo de vacas A2A2, principalmente entre a parcela da população que apresenta algum desconforto digestivo ao ingerir lácteos, a raça Jersey se destaca entre as demais, pois a ampla maioria do rebanho possui exclusivamente esse tipo de β-caseína.
Nesse contexto, a seleção genética é o caminho mais simples e permanente na busca por animais A2A2, assim como a avaliação genômica de fêmeas e o uso de touros com esse tipo de β-caseína. Tudo isso representa a oportunidade de transformação genotípica do rebanho.
Artigo por:
Dr. Claudio Aragon
Diretor de Mercados Semex Brasil